Como estudar direito?
O maior desespero de um estudante de Direito é o temor do
esquecimento. Pois a obrigação diante da qual sempre se encontra é
responder corretamente a questões jurídicas. Se não responde
corretamente às questões de suas provas, não forma, não se torna
advogado, não passa em concurso. O bacharelado em Direito é simples
assim: tudo baseado em responder corretamente a um número determinado ou
indeterminado de questões. Corretamente, entre aspas.
O segredo mais secreto dos estudantes de Direito, utilizado para
sobrepor esse temor, esse desespero, é o estudo. Somente o estudo. O
gênio dos gênios, que toda sala de aula possui, não é nenhum gênio. Às
vezes, finge que é, para se fazer de orador. Às vezes, os colegas mais
preguiçosos também fingem o mesmo, para utilizá-lo como a fonte
inesgotável da cola milagrosa. Entre os “gênios” e os “coladores”, há os
estudantes que talvez não saibam ainda que o segredo é tão-somente o
estudo. Perguntam-se: como?
Estudar é assunto pessoal. Ninguém, a não ser o próprio estudante,
pode descobrir a sua individual essência de estudante. Nenhum curso ou
cursinho, nem livro de auto-ajuda, poderá ensinar como se estuda. Cursos
e livros podem ajudar com a utilização do tempo e outras formas de
organização pessoal, para uma vida de estudo mais produtiva. Podem
servir como incentivo, inspiração a pensamentos positivos. Mas não
ensinam a estudar. E nem poderiam.
A primeira tarefa de um estudante de Direito, mesmo os já formados, é
fazer uma reflexão sobre a própria vida de estudo. A pergunta que deve
ser feita a si mesmo é: qual é o meu jeito pessoal de estudar? A
resposta não precisa ser imediata, mas a reflexão inicial deve levar o
estudante a experimentar o estudo. A reflexão e a experimentação
revelarão ao estudante qual é o seu jeito de estudar e qual é o seu
ritmo pessoal.
Fugir de competições é salutar. É natural que, quando se descobre que
podemos estudar e ampliar nossos conhecimentos, surja a vontade de
transmitir aos colegas as novas descobertas obtidas nas leituras e
raciocínios. É uma prática saudável essa transmissão de conhecimentos.
Mas não é raro surgirem os que querem vencer a discussão, proferindo as
sentenças mais corretas e perfeitas dentro do debate. Dessas situações,
deve-se fugir. Há sempre alguém preparado a “ter razão sem razão”. E se o
simples estudante der uma resposta que não permita ser contrariada,
porque clara e simples, ganhará no irracional um inimigo e um competidor
incansável. Não é para isso que serve o estudo.
O volume crescente de matérias e assuntos, e livros e leis, assusta.
Uma vez li em algum lugar que na China há um ditado mais ou menos assim:
se um homem precisa caminhar mil quilômetros, deverá dar o primeiro
passo. No estudo acontece a mesma coisa. Para ler um livro de 900
páginas, há que ler página por página. Um passo de cada vez. Uma página
de cada vez.
O mundo do conhecimento jurídico brasileiro atual tem, cada vez mais,
empurrado o estudante para um turbilhão de informações, exigindo dele
cargas excessivas de adrenalina para estar em dia com tudo o que se
refere ao Direito. É transmitido ao estudante a impressão de que tem que
se ajustar imediatamente à velocidade, ao estudo exaustivo, à
competição. Coloca-se o estudante como soldado em um campo de batalha.
Em seus quartos, os estudantes mais “fracos” nesse cenário
estarrecedor, choram e se desesperam. Querem desistir. Alguns desistem.
Desistem principalmente aqueles que querem adotar um ritmo que não é o
seu. Enquanto outros fingem ter nascido sabendo tudo. Todavia, quem
passou em primeiro lugar em um concurso não é, necessariamente, o mais
capaz. Apenas respondeu corretamente a mais questões. E sempre tem
alguém para louvar como natural uma qualidade conquistada.
Qual é o seu jeito individual de estudar? Qual é o seu ritmo pessoal?
O segredo é o estudo. E o estudo não é um segredo, é uma atitude
pessoal. É o essencial. É o que supre e o que transforma. E forma.
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